Amor-casa
Por via de mãos amigas, entrámos na vida um do outro como
quem entra em casa. Serias senhorio, eu inquilina. A tua casa seria nossa, antes
de sermos um do outro. Mas não fomos. A vida sabia mais do que nós e trocou-nos as voltas.
Trouxe-nos o caminho certo de nos habitarmos um ao outro. Eu a morar num n.º
11, em Campo de Ourique, tu a morares num n.º 11, em Benfica. Até que, do jeito
certo, o teu coração abriu as janelas e juntos abrimos portas à história que
esperávamos, há muito. O amor aconteceu-nos. Sabíamos sem saber que tínhamos
chegado a casa, ao amor-casa. Tão nosso.
Surpreendeste-me desde o início,
desde o começo do nosso namoro. E continuas a surpreender-me e a despertar em
mim o mais límpido riso. Rio-me tanto, contigo. Rimo-nos tanto, como nunca.
Como sempre, como sempre esperamos que seja. Um riso-brisa, um riso solar,
contra toda a dor que, nos nossos passados, vivemos. O teu sorriso é uma varanda cheia de
fotossíntese e lua cheia; o teu nome, Hug…o, a denúncia do abraço perfeito que
contigo acontece. Acontecemos.
E imaginamos as nossas mães a conspirarem a nosso favor, lá onde estão, do outro lado da vida.
Quis surpreender-te no teu
aniversário. Quis que o teu presente traduzisse a nossa história e a Inês Flor
surpreendeu-me com a delicadeza do talento. Das mãos desta criadora saiu uma
peça que ilustra, na perfeição, o nosso amor-casa. Estás a “fazer um beijo”,
como diria o teu sobrinho Tomas, estamos de olhos fechados atentos ao que em
nós é lume, estamos de mãos dadas (não nos cansamos da dança dos nossos dedos),
estamos rodeados do que se colhe quando, com atenção, se planta. Está lá ainda a tua magnólia
que voltou a florir, ao fim de tantos anos cabisbaixa, estão lá escaravelhos,
que tanto me dizem, pela simbologia. E as minhas palavras com as quais a Inês
nos quis enlaçar.
Contigo sinto-me verdadeiramente
em casa. És o meu código postal, o meu 11.
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