Nós tristes



“Morreu o jornalista Pedro Rolo Duarte”. O feed do Facebook a dar-te um murro nos olhos. Não acreditas. Abres a notícia. E o murro no estômago. O Pedro estava doente e não sabias. O Pedro tinha cancro e não desconfiavas. Caramba, 53 anos. Caramba, o Pedro. O Pedro que eu admirava desde os tempos de universidade. O Pedro, editor do DNa, o suplemento do Diário de Notícias que eu venerava. Fim-de-semana que era fim-de-semana tinha de ter DNa, para o ler de uma ponta à outra, com sofreguidão. A inveja boa que tinha, ainda estudante, de quem fazia aquele suplemento, que foi só das melhores coisinhas que o jornalismo teve. O meu sonho era, um dia, ter a oportunidade de ver um texto meu publicado no DNa.

Nunca escrevi no DNa. Mas quando desejamos muito, profundamente, o sonho acontece. E aconteceu em 2009, altura em que o Pedro criou e editou a revista “Nós”, um suplemento do jornal i. Não nos conhecíamos, mas o meu desejo de poder integrar um projecto do Pedro motivou-me a enviar-lhe um e-mail, manifestando a minha vontade de colaborar com a “Nós”. E graças a esse meu impulso nós passámos a trabalhar juntos. Nós.

O Pedro não me conhecia, caramba. E até sabia da pouca simpatia que eu tinha pelo Grupo Lena (que era proprietário de um órgão de comunicação social onde eu tinha trabalhado). Leu alguns trabalhos meus e confiou no meu talento.

Com humildade e generosidade, o Pedro ajudou-me a realizar um sonho. Na “Nós” foram publicados alguns dos textos que mais prazer me deram realizar. As noitadas que fiz, para cumprir prazos, não se traduziram em cansaço, mas em entusiasmo. É tão bom trabalhar em projectos que nos fazem brilhar os olhos. É tão raro.

Obrigada, Pedro, por me teres dados momentos de tanta felicidade. Obrigada, Pedro, por me fazeres ter orgulho de dizer que integrei um projecto fruto do teu talento. Obrigada, Pedro, por fazeres do jornalismo uma obra de arte. Sabes, Pedro, irei continuar a guardar os exemplares da “Nós”, como quem tem em mãos um tesouro.


As palavras são tão escassas para te abraçarem, caramba.

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